terça-feira, 6 de dezembro de 2011

Dados demonstram vulnerabilidade das mulheres diante do HIV/Aids


Como reflexão em torno do Dia Mundial de Luta contra a Aids, 1º de dezembro, a organização
feminista Flora Tristán organizou dados de várias pesquisas no Peru que demonstram a
vulnerabilidade das mulheres diante do HIV/Aids. Questões relacionadas à anatomia, mas
fundamentalmente aos valores machistas, contribuem para a feminização da Aids no país.

De acordo com o material, em 1986, três anos após o registro do primeiro caso de Aids no Peru, para cada mulher infectada pelo HIV havia nove homens na mesma situação. Hoje, para cada mulher, há três homens com o vírus.

Para a organização, a desigualdade de gênero e o machismo contribuem para a aceleração dadisseminação do HIV/Aids entre a população feminina. "Ambos os fatores limitam a capacidade das mulheres, por exemplo, para negociar práticas sexuais seguras, como o uso contínuo depreservativos, principalmente quando as relações sexuais se dão no marco de uma relação de casal considerada estável”, pontuam, acrescentando que isso se evidencia mesmo quando se suspeita que o parceiro tenha posturas sexuais de risco ou para lhe exigir um exame que detecta HIV ou outras DSTs.

Há situações ainda mais complicadas, como as de violência sexual. Neste contexto, é quase
impossível negociar as relações sexuais e o uso do preservativo, assinalam as feministas. De acordo com pesquisa sobre saúde familiar do Instituto Nacional de Estatística e Informática, 22,4% das mulheres entre 40 e 49 anos foram obrigadas, alguma vez, a ter relações sexuais com o esposo ou companheiro. 14% foram obrigadas a manter relações sexuais que não desejavam.
Somada a essa conjuntura de violência sexual, inclusive dentro do matrimônio, vem o fato de a
anatomia feminina representar maior facilidade de infecção. Como informa o texto de Flora Tristán, o risco para as mulheres, em uma relação vaginal desprotegida, é de 2 a 4 vezes mais grave do que para o homem – a zona de exposição ao vírus durante a relação sexual é maior para as mulheres, além de que a carga viral é maior no sêmen do que nas secreções vaginais.

Para as adolescentes a situação é ainda mais perigosa, uma vez que o colo do útero tende a ser
imaturo e as paredes da vagina são menos grossas. As mulheres na menopausa também se tornammais expostas, pois a superfície da vagina tende a se tornar mais fina.Consideradas um grupo de baixo risco, as mulheres acabam sendo deixadas em segundo plano quando o assunto são políticas de prevenção ao HIV/Aids. Contudo, a feminização da doença e estimativas de novos casos mostram que já é preciso modificar essa visão, principalmente com relação a mulheres heterossexuais e monogâmicas.

O Estudo de Estimativa da incidência do HIV aplicando o modelo de Modos de Transmissão para
epidemias concentradas prevê que do total de novos casos de infecções, 43% serão entre
heterossexuais. Desta porcentagem, 15% são heterossexuais pertencentes ao grupo de baixo risco e 18% são as mulheres cujos parceiros são clientes de profissionais do sexo, dos homens que fazem sexo com homens (HSH) ou são usuários de drogas injetáveis.

Uma das maneiras de resguardar as mulheres seria investir em informação e na disponibilização ampla, por parte do Estado, de preservativos femininos, que atualmente não são encontrados nem em postos de saúde nem no mercado.

"As estatísticas demonstram que as mulheres de todas as idades usam o preservativo em uma baixa porcentagem quando têm relações sexuais com o esposo ou companheiro. As adolescentes e as mulheres entre 40 e 49 anos são as que menos usam este método de proteção”, adverte.

Ainda segundo o órgão, 0,6% da população peruana tem HIV, mas a infecção é considerada
concentrada, pois entre os grupos dos HSH, 10% convivem com o vírus e entre os travestis a
porcentagem chega a 40%. A maioria dos casos está nas cidades e departamentos mais urbanizados, na costa e na selva peruana – Lima e Callao concentram 73% das ocorrências.