Historicamente tem-se observado que as mulheres aguardam que o quadro de informações das campanhas esteja mais completo, e só se interessam mais fortemente pelas eleições quando o horário eleitoral gratuito começa e os debates entre os candidatos são realizados. Mais ainda, as eleitoras ficam na expectativa de algo que afete diretamente a vida da população, como propostas para a saúde, educação, desemprego e segurança, entre outras. Pela experiência das campanhas anteriores, sabe-se que esse processo de tomada de decisão sobre intenção de voto se dá mais consistentemente durante o período de propaganda eleitoral gratuita.
Eleitoras: decisão de voto mais consciente e consistente
Gráfico 1 – Pesquisa Ibope 1º turno (30/09/2006); voto estimulado
Eleições 2006: mulheres eram 61% dos indecisos na véspera das eleições
Como foi dito anteriormente, uma parcela das eleitoras aguarda até o último momento e até a última informação disponível para se definir com mais convicção.
Gráfico 2 – Pesquisa Ibope (setembro/2006)
Eleições 2010: as pesquisas e o fim do ciclo das pré-candidaturas
Por exemplo: na última pesquisa Ibope, realizada no fim de maio, verifica-se na resposta espontânea que 36% estão indecisos, sendo 40% mulheres e 32% homens. Ou seja, o padrão observado se confirma neste estágio da campanha.
Em 2010, foram publicadas 13 rodadas de pesquisas dos institutos Vox Populi, Sensus, Ibope e Datafolha. Em todas elas, a intenção de voto das mulheres em Dilma Rousseff (PT) é inferior a dos homens.
Pesquisa Ibope (maio/2010); arte: G1
Contudo, o crescimento de Dilma não anulou as diferenças nas intenções de voto de homens e mulheres. Desde o início de 2010 Dilma Rousseff tem mais votos masculinos e essa diferença tem se mantido estável ao longo do ano, em 9 pontos percentuais. Na pesquisa Ibope de maio, 41% dos homens votariam em Dilma, enquanto apenas 33% das mulheres tinham intenção de votar na candidata do Partido dos Trabalhadores.
Perfil dos eleitores de cada candidato
Nesse caso, o voto em mulheres precisa ser explicado de outra forma, pois tem a ver diretamente com conteúdos de campanha e discursos que falam mais ou menos às mulheres.
Gráfico 4 – Pesquisa Ibope (maio/2010)
Mulher vota em mulher?
No entanto é importante lembrar que não faltam eleitoras que votem em mulheres, mas sim candidaturas femininas com estrutura partidária, apoio efetivo em termos de recursos, infraestrutura e tempo no horário de propaganda eleitoral. Historicamente, os partidos políticos são espaços de poder masculino. Em 2008, por exemplo, os partidos não cumpriram a cota de 30% de candidaturas femininas na maior parte das capitais.
Em diversos países em que mulheres apresentaram candidaturas fortes, elas obtiveram votação expressiva, de eleitoras e eleitores. Na América Latina há os exemplos recentes e bem-sucedidos das presidentes Laura Chinchilla (Costa Rica), Michelle Bachelet (Chile) e Cristina Kirchner (Argentina).
Juntas, Dilma e Marina têm 49% das intenções de voto
Os discursos proferidos por ocasião da oficialização das candidaturas de Marina Silva, José Serra e Dilma Rousseff ganharam conteúdos programáticos novos e mais abrangentes. Os candidatos fizeram as primeiras propostas que se vinculam às esferas do cotidiano, como educação, desemprego, saúde e políticas sociais em geral.
As mulheres são mais sensíveis às políticas públicas
Nesta fase de pré-campanha que se encerra, os temas de maior visibilidade estavam ligados aos bastidores da política –alianças partidárias, composição de chapas, lutas internas entre aliados– que mobilizam mais os eleitores homens. Daqui para frente começam a entrar nas campanhas os conteúdos de políticas públicas, que ganham mais a atenção das eleitoras. Nesta última fase as mulheres se engajam mais fortemente e as candidaturas poderão se beneficiar destas características do processo eleitoral.
Gráfico 5 – Pesquisa Datafolha (maio/2010); * pesquisa Vox Populi
Principais atributos de cada candidato na opinião das eleitoras
José Serra | Dilma Rousseff | Marina Silva |
Experiência | Defesa dos interesses das mulheres | Defesa dos interesses das mulheres |
Preparo para cuidar da Saúde | Defesa dos pobres | Defesa dos pobres |
Defesa dos empresários | Combate ao desemprego | Preparo para cuidar da educação |
Pesquisa Datafolha (maio/2010)
Esta é uma das explicações para a diferença de intenção de voto entre homens e mulheres. Mais voltadas para o cotidiano, as eleitoras vêem em Serra qualidades executivas para a gestão de políticas públicas, como: ser mais experiente para o cargo (60%); mais preparado para cuidar da saúde (47%): e preparado para ser presidente (43%).
Já em Dilma as mulheres percebem mais atributos relacionados a mudanças de poder político, como: a defesa dos interesses das mulheres (40%) e dos pobres (32%) e o combate ao desemprego (31%).
Entre as eleitoras, os indicadores de atributos positivos relacionados a Marina Silva estão próximos da intenção de voto da candidata (12%). Destacam-se três índices entre o eleitorado feminino: a defesa dos interesses das mulheres (22%); a defesa dos pobres (19%) e o preparo para cuidar da educação (13%).
Gráfico 6 – Pesquisa Datafolha (maio/2010)
De outro lado, é significativo entre as eleitoras o peso do apoio do presidente a Dilma, mas ainda não foi atingido todo o seu potencial.
Em outra questão, o Datafolha indaga com que certeza os eleitores votariam no candidato/a do presidente Lula: 46% dos homens e 43% das mulheres afirmam que este apoio os levaria com certeza a escolher esta candidata. Levando em conta esses dados, a candidatura Dilma Rousseff praticamente chegou perto do teto do voto masculino: ela tem 42% de intenções de voto e o potencial de 46% de homens que votariam, com certeza, na candidata do presidente. No entanto, entre as mulheres Dilma tem 33% das intenções de voto declarado e um potencial de crescimento de 10 pontos percentuais, pois 43% das mulheres declaram que votariam, com certeza, na candidata de Lula. Portanto, quando as candidaturas, chapas e alianças estiverem definidas e a campanha mudar o foco para políticas públicas, as mulheres poderão fazer a diferença para as candidatas Dilma e Marina.
Com relação a Serra é importante notar que a pesquisa Ibope publicada no início de junho aponta a Saúde como o principal problema que o próximo presidente deverá enfrentar. Nesta perspectiva, Serra tem uma clara vantagem em relação aos demais candidatos, mesmo porque foi um ministro bem avaliado da pasta da Saúde (ver o gráfico de atributos ligados aos candidatos).
Daqui para frente as eleições mudam de ciclo, os eleitores e, sobretudo, as eleitoras terão olhos mais abertos para as campanhas. As propostas dos candidatos ganham mais foco nos debates, na propaganda e nos discursos. E as duas candidatas e os nove candidatos* terão que olhar mais para as mulheres. Assim sempre foi e assim será nas eleições de 2010.
* José Serra (PSDB), Rui Pimenta (PCO), Levy Fidélix (PRTB), Oscar Silva (PHS), Plínio de A. Sampaio (PSOL), Mario de Oliveira (PTdoB), José Maria Eymael (PSDC), Américo de Souza (PSL) e Zé Maria (PSTU).