terça-feira, 4 de maio de 2010

Cordel sobre Violência Doméstica



I
Eu quero denunciar
com verdade e veemência,
esta barreira a nós imposta,
chamada de violência,
que nos fere o corpo,
a capacidade e a decência.
II
Mulher não trabalha fora,
não fala alto nem reclama,
O homem a quer em casa
serviçal, boa de cama.
Ou lhe serve os instintos
ou lhe maltrata e difama!
III
Usam da brutalidade,
para brecar nossa luta.
Prepotentes e violentos,
apelam para a disputa:
<< mulher que trabalha fora,
É vadia e prostituta! >>
IV
A mulher é discriminada
em tudo aquilo que faz.
Na sociedade é rotulada:
bonita, mas incapaz!
Se abre a boca, diz besteira.
Deve servir e nada mais.
V
Calando a mulher consente
no seu brutal sofrimento...
Nunca teve vez nem voz,
tampouco discernimento:
fica à mercê do algoz,
entregue ao recolhimento.
VI
Se presa a um casamento,
limita-se à gestação.
Sofre maus tratos e pancadas:
todo tipo de humilhação!
Se acomoda a uma vida
repleta de insatisfação.
VII
Até por ignorância,
inocência ou temor,
a mulher não se rebela:
- não mostra o seu valor.
Chora sob o travesseiro,
engolindo sua dor.
VIII
A mulher carrega a sina
de não ter uma opação.
Seus olhos revelam medo,
vergonha e submissão.
Perde a sua identidade:
-vive uma encenação!
IX
A encenação chega ao ponto
de tornar-se violência....
Ela, então, espanca os filhos
por não ter mais paciência.
Sobre eles descarrega
uma ira sem clemência!
X
Mulher, seu penar é grande!
Maior sua violação!!
Não tem direitos sequer,
a dar uma opinião.
É objeto de cama e mês,
de injustiça e exploração!
XI
Seu lar, sua casa, seu canto,
é a própria cadeia....
Escravizada e analfabeta:
-completamente alheia!
Dependente dum marido
que lhe humilha e esfaqueia.
XII
<< O homem entende de tudo >,
diz um torto ditado.
A mulher só de cozinha,
de criança e de bordado.
É ele quem trabalha e sua,
prá lhe dar o pão sagrado!
XIII
Este pão dado à mulher,
é pão que o diabo amassa.
è o pão do sofrimento,
da tortura e da desagraça.
Mas, ela temendo o mundo,
d’ outro pão não sai à caça!
XIV
Por causa da sociedade,
teme ser abandonada...
Os vizinhos vão dizer
que ela não valia nada.
Apanhava do marido
por ser desavergonhada!
XV
Pensando assim desse jeito,
seu sofrimento é repetido.
Por medo e insegurança,
se submete ao marido.
Assume toda a culpa,
não quer o lar destruído!
XVI
Ciente disto o homem abusa,
desrespeita a mulher,
a xinga de vagabunda
e usa o sexo como quer.
Se ela não se submete,
leva soco e pontapé!
XVII
E uma vez espancada,
isto se torna rotina.
<< Briga de marido e mulher, ninguém mete a botina!>>
Ele bate e ela aceita:
-tem de cumprir sua sina.
XVIII
Esta sina foi selada
no dia do matrimonio.
Foi criada pra casar:
-fez promessa a Santo Antônio!
Casou-se de véu e grinalda,
hoje vive num pandemônio!
XIX
A encantada cinderela
vê seu castelo desmoronado.
Seu príncipe é um brutal,
um bossal, e um tarado!
O seu sonho de menina,
morre num molho inchado.
XX
Com seus filhos pra criar,
sem dinheiro sem recurso...
Pensa em procurar emprego,
mas não concluiu o curso.
Só sabe coser e lavar:
-este é o seu percurso!
XXI
Ela, então, baixa a cabeça
já cansada e abatida.
Sustenta a dor calada,
machucada e ferida.
Olha seu corpo marcado
chora e maldiz a vida!
XXII
Desse jeito chega ao fim:
-recalcada e oprimida!
Não conheceu seus direitos,
viveu só e desvalida.
Sem saber que havia gente
lutando por sua vida.
XXIII
Agora, chega de violência!
Acabemos com este mal!!
Há um órgão competente,
que tem um só ideal:
-defender nossos direitos,
mostrar que tudo é igual .
XXIV
Para a mulher foi criado,
está pro que der e vier.
Fica na Joaquim Fabrício.
Visite-o quando quiser:
-é o CONSELHO MUNICIPAL DOS DIREITOS DA MULHER!

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